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"A gente se supõe, Deus nos conhece"
"A gente se supõe, Deus nos conhece"
12:52
Postado por widneymt
08:34
Postado por widneymt
Em 2009, comemorou-se na Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro — chamada pelas suas linhas neoclássicas de "Catedral Presbiteriana" — os 150 anos da Igreja Presbiteriana do Brasil. Poderia ter sido comemorada a organização da primeira igreja (em 1862), ou a organização do primeiro sínodo (1888), mas em vez disso, a data marca o dia do desembarque do casal de missionários, Helena e Ashbel Simonton, no porto do Rio de Janeiro, no dia 12 de agosto de 1859. Por André Mello, pastor da Igreja Presbiteriana de Copacabana, jornalista e antropólogoFonte: http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=100
Porque o mais importante na vida da Igreja é sua Missão. Igreja é Missão e por ela se define. Suas atividades todas precisam ser "missionárias" e aí está a primeira palavra a ser vivida.
Ironicamente, no mesmo dia em que o Congresso Nacional rendia-se à Concordata com o Vaticano, reconhecendo privilégios especiais para a Igreja Católica Romana e seus representantes, instituindo o Ensino Religioso Católico nas escolas públicas de todo o Brasil — revogando, na prática, o decreto de 1891 que separou a Igreja do Estado Republicano — neste dia inesquecível, em 12 de agosto de 2009, em um culto protestante, estiveram presentes todas as esferas do Poder Executivo brasileiro: federal, estadual e municipal.
O que disseram e o que significa esta presença?
O Presidente, Luís Inácio da Silva, lembrou o papel educacional da Igreja. O Governador, Sérgio Cabral, rememorou a luta dos protestantes cariocas em defesa da liberdade de culto e de expressão —enfatizando que, no centenário da Igreja, um presidente ameaçado de não tomar posse, Juscelino Kubistchek, participou do mesmo culto, no mesmo lugar. O prefeito, Eduardo Paes, lembrou a atuação da Igreja através dos hospitais, asilos, orfanatos e educandários, destacando sua importância para a cidade.
Não se falava a respeito da "Missão Integral" à época de Simonton. Aliás, nem havia uma Teologia da Missão muito clara. Mas a Igreja já era, em todas as suas ações, essencialmente missionária.
Como bem observa o Pacto de Lausanne, a tentativa de separar a Missão "Espiritual" dos outros aspectos da Missão só empobrece (ou anula) o que a Igreja sempre fez, faz e fará. Muita gente, como Simonton, fazia e faz Missão Integral sem o saber — Ashbel era um jovem, de 26 anos, claramente preocupado com a abolição da escravatura, com as questões sociais e com a educação popular.
Na prática, a teoria é viva
Nossa Igreja brasileira carece de fundamentação teológica para o que faz e, quase sempre, a prática é anterior à teoria em todas as atividades eclesiásticas — desde o culto até a organização das comunidades. Para alguns, isto é um equívoco; para outros, esta falta de teorização é uma virtude.
Se é vício ou virtude, não sei; mas o que sei é que Simonton já escrevia, há 150 anos atrás, sem uma base teórica mais acurada, o retrato de um país que ainda nos envergonha — e um desafio para lá de atual. "O Evangelho dá estímulo a todas as faculdades do homem e o leva a fazer maiores esforços para avantajar-se na senda do progresso. Se assim não suceder entre nós, a culpa será nossa. Se a nova geração não for superior à atual, não teremos cumprido nosso dever".
Uma Igreja Educadora
Simonton acreditava que o papel da Igreja — em sua Missão — é educar. Projetos de alfabetização, de educação popular e de associação de moradores estavam sempre surgindo de sua atividade, ainda que não houvesse em seus documentos e textos uma "teologia da Educação".
Sobre a educação, observa o Missionário que "faltam professores e professoras com a prática necessária para desempenharem esta Missão e o governo ainda não admite a instrução livre. Mas é necessário não cedermos a nenhum obstáculo. Embora não seja possível desde já fazer o que se quer, devemos ter sempre em vista como alvo a instrução e a educação da nova geração. Sendo este meio indispensável, temos razão em esperar que Deus nos deparará os meios de atingi-lo".
Para Simonton, ao lado de cada Igreja deveria haver uma escola, sendo a igreja também educadora das massas. Digno de nota é o registro histórico de que havia uma presença maior de pessoas nas salas de aula do que nos salões de culto. Por vezes, o número de pessoas matriculadas na Escola Bíblica Dominical — o dobro e, às vezes, o triplo — superava em muito o número de adoradores.
Que Igreja somos?
Hoje, temos uma Igreja cuja ênfase é a adoração, em especial música gospel. Temos dificuldade de convocar os crentes para o Estudo Bíblico e não nos impressiona mais ver uma sucessão de escândalos, inclusive o escândalo de perceber que até mesmo a importância da separação entre Igreja e Estado, tão cara aos missionários do século XIX, é tão rara entre os que se misturaram aos colonizadores e adeptos do imperialismo comercial e financeiro.
O Século XX nos lembra que a Teologia da Missão procurou separar claramente os papéis da Igreja e do Estado — em particular diante das políticas públicas e da educação das massas. A Igreja é consciência do Estado e balança da Justiça nas mãos de Deus. Mas, por vezes, ela tem se permitido ser cooptada. Outras vezes tem tentado cooptar o Estado para fins que nunca justificam os meios.
E ainda tem mais
Além destas questões que nos desafiam, há outras. Listo as mais urgentes, para não mencionar tudo. A questão ambiental (mais visível), a questão sensível e violenta das drogas (lícitas e ilícitas), a situação da mulher que tem sempre recebido atenção dos que já atuam em Missão Integral.
Mas, agora, permito-me a apontar as grandes lacunas — que já eram ocultas nos dias de Simonton —, porque há temas mais invisíveis entre os mais invisíveis dos latino-americanos: os idosos, os presos e indígenas.
Por que aqueles que buscam recuperar e salvar a humanidade sempre vão adiante dos centros que refletem sobre o que já foi feito? O Brasil será um país de idosos em breve. Um país idoso e automedicado com ansiolíticos. Que efeitos isto terá em nossa Missão? Temos, atualmente, cerca de 500 mil presos — com um sem número de mortes violentas entre os jovens que já foram ou ainda estão em situação de risco social (entre 18 e 30 anos).
Será que alguém já enxergou estes campos brancos para ceifa?